03 março, 2010

Plínio e a história

Em 2010, tive a sorte de conviver por algumas horas com Plínio de Arruda Sampaio, e saí desse encontro impressionado com a energia e o carisma de um dos grandes protagonistas da história do socialismo brasileiro.

— Bom dia, seu Plínio.
— Que história é essa de “seu Plínio, companheiro”? — respondeu ele, com aquele sorriso firme. — É Plínio.

No caminho do hotel para o aeroporto, Plínio começou a contar episódios de sua longa vida. Passando pelo Eixão, uma das rodovias principais de Brasília, comentou:
— Brasília está diferente. Naquele tempo, não havia uma árvore sequer.
Apontando para um dos cruzamentos, conhecidos aqui como “tesourinhas”, disse:
— Numa dessas entradas havia um tanque estacionado. Foi em 1964, quando eu ainda era deputado federal.

A narrativa continuou, como se estivéssemos assistindo a uma cena de filme:
— Para sair de Brasília, cercado pelos milicos, precisava de amigos. Os companheiros do Partido Comunista me ajudaram a fugir. Fomos para Goiânia, mas no caminho encontramos uma barreira da Polícia Militar. Todos estávamos nervosos. Quando o policial pediu nossas identificações, um deles nos reconheceu e disse em voz alta para o sargento: “Tudo bem aqui”. E fomos liberados. Nunca mais vi aquele rapaz.

E não faltou humor em meio à tensão:
— Vocês, que são beatos, rezem uma Ave Maria — lembrou Plínio, repetindo o pedido de um dos companheiros, como se estivesse compartilhando um segredo.

Ao chegarmos ao aeroporto, Plínio desceu do carro e se dirigiu ao balcão da companhia aérea, acompanhado de outro companheiro. Curioso, perguntei ao motorista por que não o acompanhava até o embarque.
Ele respondeu, com a simplicidade e o humor que sempre o caracterizaram:
— Não precisa me acompanhar. Vão achar que eu sou um velho.

E ali estava Plínio de Arruda Sampaio: um homem de história, de luta, mas também de sorriso fácil e presença marcante. Conversar com ele foi perceber que a História, às vezes, se faz também na leveza de uma palavra, na firmeza de um gesto e na coragem de viver o que muitos só ousam ler nos livros.

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