07 setembro, 2021

    Esta bandeira também é minha porque Sepé Tiarajú defendeu seu povo contra a colonização dos espanhóis e portugueses;

    Esta bandeira é minha, porque os quilombolas resistiram e merecem ter o direito a preservação da sua história;

    Esta bandeira também é minha porque Zumbi dos Palmares, deu uma lição de vida acolhendo a todas as pessoas excluídas sem discriminação;

    Esta bandeira também é minha, porque Dandara resistiu e não quis voltar a sua condição de escrava;

    Esta bandeira também é minha porque Chico Mendes defendeu o meio ambiente, os seringueiros e a Amazônia;

    Esta bandeira também é minha; porque Irmã Doraty, era contra o desmatamento da Amazônia;
Esta bandeira também é minha porque Anísio Teixeira, Darci Ribeiro e Paulo Freire defenderam uma educação para todos e libertadora;

    Esta bandeira também é minha, porque mulheres e homens como Solange Lourenço, Lydia Monteiro, Honestino Guimarães, Vladimir Herzog, e tantas outras mulheres e homens morreram para ver este pais viver numa democracia;

    Esta bandeira também é minha porque Marielle Franco, lutava pelos negros, pelos pobres, pelos LGBTQIs e por todos aqueles que amam este país.

    Portanto, esta bandeira é de todos e todas que lutam por um país democrático, mais justo e com mais amor.
    

12 janeiro, 2019

A esquerda on line

Parece que a esquerda brasileira esqueceu de como fazer o bom combate.
A substituição da organização dos movimentos sociais pelas redes sociais é evidente. O militante atual de esquerda vive de postar fotos e vídeos no facebook, mostrando que participaram de reuniões intermináveis com outros militantes que também fazem questão de publicarem as selfies.

Iludidos com o modernismo revolucionário, estes novos militantes apostam que a revolução acontecerá pela internet. Enquanto isso,  a direita se organiza através das igrejas pentecostais reunindo a juventude e convocando-os para a cruzada celestial.

Resta muito pouco da militância tradicional, aquela que se envolve com os movimento sociais, como o MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, dentre outros movimentos, que pelo menos tentam tirar os menos favorecidos do flagelo social.

O grande debate de organização social passou para a esfera acadêmica, dos grandes textões  diagnósticos da crise brasileira e mundial, mas todos distanciados da real necessidade do povo que vive nas periferias, que está nas ruas das grandes cidades, dos assentamentos da reforma agrária  das populações ribeirinhas e dos atingidos por barragens,abandonados pelos governantes.

Esquecemos que a luta deve estar próxima do povo, da organização de base da classe trabalhadora, dos desempregados, dos endividados, dos sem transporte, e daqueles que realmente precisam. Parece que a esquerda brasileira esqueceu que para existir de fato uma revolução, precisamos do povo e dos debaixo organizados, caso contrário, fazemos de conta que queremos a verdadeira revolução.

A esquerda brasileira passou a ser a esquerda do facebook, do instagram, do whatsapp e do twitter, e esqueceu das organizações de base.

08 março, 2016

FERNANDEZ, C. B. e GUIMARÃES, J. F. O. Redes de assistência social. Ser Social, 16ªed, 2005.

Resumo: Pretende-se identificar neste artigo a pressuposta rede de atendimento da Política de Assistência Social no Município de Porto Alegre. Para tanto, elegeu-se a experiência de implementação da política viabilizada pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) no período de 1992-2004, que corresponde às gestões designadas administração popular. Esta reflexão transita entre concepções teóricas e empíricas de redes de atendimento na busca de apreensão de suas aproximações e distâncias. Discutir redes de assistência social é, sobretudo, contextualizá-la, considerando suas relações internas, locais, regionais, nacionais, sociais, econômicas e de classe. Nesse sentido, será abordada a questão da assistência social, a relação entre ações assistencialistas e emancipatórias e o atendimento em “redes” na experiência da gestão da política municipal de assistência social.
Palavras-chaves: assistência social, cidadania, emancipação, participação popular e redes.

NETS OF SOCIAL WORK
Abstract: The present article searchs to identify net of attendance of the social work politics in the city of Porto Alegre. Therefore, it was chosen experience of implementation of the politics realized for the Foundation of Social Work and Citizenship (FASC) in the period of 1992-2004, that it corresponds to the appointed management’s popular administration. This reflection transits between theoretical and empirical conceptions of nets of attendance in the search of apprehension of its approaches and distances. Speak about net of attendance of the social work is specially considering its internal relations, places, regional, national, social, economic. In this direction will be augmented, the question of the social work, the relation between of the social work and emancipation and the attendance in "nets" in the experience of the management of the municipal politics of social work.
Keywords: social work, citizenship, emancipation, popular participation and nets;
  
APREsentação

Este artigo teve origem em debates sobre a distância existente entre o meio acadêmico e as ações do cotidiano, entre os que pensam a assistência social e os implementadores.  Pressupondo a ausência de dicotomia entre teoria(s) e prática(s) - ambas se alimentam mutuamente - nos dispusemos a desenvolver um esforço de aproximar a teoria da prática e a prática da teoria. Nesse sentido, envidamos esforços para refletir sobre as configurações das redes de atendimento da política municipal de assistência social nas gestões da Administração Popular[1] de Porto Alegre, num contraponto a diferentes concepções de redes, proporcionando o debate sobre as chamadas redes de atendimento. Nossa intenção é identificar aproximações e distâncias entre concepções teóricas e empíricas de redes - as que partes da compreensão e vivência dos atores envolvidos.

Assistência ontem e hoje
A assistência tem permeado historicamente as sociedades como forma de ação solidária entre os homens, visando a amenização de situações aviltantes a sua própria existência.  A chamada ajuda aos pobres desprovidos de mínimas condições de vida, pode ser sinônimo de caridade, filantropia desenvolvida pela igreja ou sociedade em geral. São protoformas da assistência. Na sociedade capitalista pode ser um instrumento utilizado pela classe dirigente ou Estado para conter os avanços dos movimentos reivindicatórios populares, conjugado as pressões exercidas pelos trabalhadores, sendo assim, o produto de conquista social, embora não apenas. É importante conceber a assistência em sua interação com a dinâmica dos movimentos sociais, do Estado, do mercado, das expressões da pobreza e da exclusão e da participação popular que atravessam a sociedade. As abordagens teóricas não conseguem apreender, explicitar essa dinâmica da realidade, contudo, é necessário um exercício constante que possibilite capturar momentos do real. Com efeito, a assistência, sua forma de trabalho, está inserida num contexto sócio-econômico político e cultural que possibilita diferentes versões sobre o conceito de assistência, conforme os diferentes estudiosos e os formatos ao longo da história social.
Em um passado ainda recente, anos 30, assistencialismo, filantropia e assistência se confundiam, eram vistos como sinônimos, sobretudo, no meio político e social. Contudo, o avanço nas discussões e ações assistenciais, associadas às mobilizações de segmentos da sociedade e Estado, na luta pela configuração da assistência como direito e não benesse, produziram modificações profundas na compreensão da assistência e conseqüentemente na luta política por uma alteração do seu estatuto no Brasil.  Se nos primórdios do século XIX assistência era prerrogativa de “moças boazinhas”, de damas de caridade ou da igreja, no início do século XX, as demandas impostas pela sociedade, como as pressões do proletariado, a criação dos sindicatos, entre outros, passa a exigir do Estado uma resposta a chamada questão social. O assistencial vai adquirindo novas conformações, numa dissonância entre os interesses do Estado de preservação da estrutura capitalista e as demandas da população, ao mesmo tempo, se constitui como espaço de articulação de pressões da classe trabalhadora no atendimento de suas necessidades. O assistencial é neste sentido campo concreto de acesso a bens e serviços, enquanto oferece uma face menos perversa ao capitalismo. Obedece, pois, a interesses contraditórios, sendo um espaço em que se imbricam as relações entre as classes e destas com o Estado.(Yasbek, 1993 p.53).
 A assistência social como espaço regulado pela relação entre classe dirigente, Estado e população desprovida de acesso a bens e serviços, assume historicamente novas configurações.  Num passado ainda recente, sobretudo, no período do regime militar, prevalecia um padrão conservador, ratificado na própria legislação e nas ações estatais e societárias, que a considerava como algo residual. Hoje, cenário pós Constituição Federal, o país emerge num processo de democratização em que assistência, vista como política pública, procura romper com a tradição histórica conservadora. A política visa à garantia de direitos ao cidadão e não de um programa de assistência. Para tanto, se requer a participação da população, nas instâncias de elaboração e formulação, bem como no controle da política de assistência social, que pode ser assegurada quando se trabalha de forma articulada entre o Estado e a sociedade civil, visando à constituição de uma rede, capaz de construir uma nova formulação da ação da política, rompendo com a lógica conservadora de atuação isolada. Esta idéia pode ser impulsionadora de novas formas, estratégias que legitimem o processo de participação.
O cidadão deve tornar-se sujeito das conquista sociais, contribuindo para a consolidação da cidadania e de sua emancipação, embora não faça isso isolado de uma estrutura, de relações de classes, passando a exercer um papel fundamental enquanto sujeito. Mudanças podem ocorrer a partir do sujeito e da estrutura, do subjetivismo e do objetivismo, na tensão dialética entre o velho e novo modus operandi proposto pela política de assistência.

Estado e Pobreza
O Estado brasileiro vem modificando historicamente sua forma de enfrentamento a pauperização da classe trabalhadora e à necessidade de inserção dos excluídos do mercado de trabalho.  Desde o reconhecimento da questão social, como legal e legítima, até a criação de um sistema de proteção social, ainda que seja com políticas focais, fragmentadas, superpostas, o Estado tem respondido as reivindicações populares. Isso ocorre no limite da reprodução da desigualdade social na sociedade brasileira. Como afirma Demo, o Estado só garante cidadania se pressionado pelos interessados, quando há mobilização, reivindicação.
Mudanças ocorridas no Estado[2] e na sociedade civil[3] na forma de conceber e viabilizar a assistência, as políticas sociais contribuíram para o delineamento do sistema de proteção social brasileiro como denomina Draibe. Iniciando nos anos 30, com Getúlio Vargas e estendendo-se aos anos 80, políticas, programas e serviços sociais assumem novo formato na agenda do governo em relação ao enfrentamento da questão social. Passam a integrar a agenda da Reforma do Estado, devido às demandas da sociedade por justiça social e pressões oriundas de mobilizações corporativistas e clientelistas. Isso contribuiu para um reordenamento do Estado de Bem Estar Social, para a construção de um sistema de políticas sociais - limitado, ineficiente – mas que se consolidou mesmo sendo imperfeito e distorcido.(Draibe, s/d). As mudanças ocorreram na dinâmica, nas contradições e conflitos que permeiam a sociedade brasileira. Não poderia ser diferente, pois a política social é um objeto eminentemente dialético, contraditório, só podendo ser compreendida no confronto com o poder do Estado capitalista.
Os anos 80 foram palco de muitas lutas políticas, de defesa pelos direitos sociais, políticos e econômicos. Redesenhou-se um processo de transição democrática que produziu uma nova configuração no sistema brasileiro de proteção social apontado, sobretudo, na Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, pensar a assistência requer considerar o novo cenário social, político e econômico do Estado, onde estão imbricados novos valores, direitos, formas de governar, atores. Noutras palavras, considerar suas múltiplas relações. O que mudou após a democratização do país, a Constituição Federal (CF) de 1988, a aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) em 1993?
            A Constituição Brasileira expressa um novo paradigma de Assistência Social, considerada como “Direito do Cidadão e Dever do Estado”, assumindo assim o caráter de política pública, integrante da Seguridade Social, juntamente com a saúde e a previdência. A promulgação da LOAS  (Lei nº 8742, de 07 de dezembro de 1993)  normatizou o disposto nos artigos 203 e 204 da Constituição, redirecionando  suas bases em novas diretrizes, a descentralização e a participação popular e objetivos, como assegura  o texto constitucional[4].
 Os avanços político/jurídicos, na concepção da assistência não significaram uma implementação espontânea (automática) da referida política nas instituições, a dinâmica das entidades caminham lentamente em direção a mudança de paradigmas, sendo permeada por conflitos e resistências. Contudo, a legislação é um importante instrumento político para sua efetivação, pois está garantido em lei, o que requer dos atores envolvidos um conhecimento e comprometimento ético/político com essa nova forma de fazer assistência - trabalhando com e não para a população. 
            Devido traços historicamente demarcados (regime militar) por ações políticas autoritárias/ centralizadoras do Estado Brasileiro, incluindo diversos governos, torna-se imperativo na nossa sociedade um processo de reconstrução participativa e democrática que considere o saber e o fazer popular como elementos indispensáveis na consolidação deste novo paradigma da política de assistência social. Nesse sentido, a assistência - política pública - deve ser analisada como um dos elementos integrantes no processo de configuração do Estado Democrático de Direitos, lentamente construído por movimentos da sociedade civil e governo, através de acirradas lutas e disputas políticas, evidenciando, inclusive, os interesses econômicos defendidos por grupos políticos e de uma forma mais ampla do capital.
            A sociedade civil deve exercer o controle democrático sobre o Estado, participando, cobrando, exigindo seus direitos. Mas, como fazer isso?  De um lado, segmentos significativos da sociedade civil, uma grande maioria, não tem acesso à informação, desconhece seus direitos e os espaços institucionais de participação. Portanto, está geralmente excluída do processo de organização e mobilização popular. Do outro, a gestão pública deve assegurar o espaço nos canais de participação e controle público, mesmo que estes sejam ocupados por aqueles já estão incluídos, os que de alguma forma tem voz – fazendo ecoar suas demandas.  O governo municipal de Porto Alegre tem procurou imprimir um direcionamento popular, através da consolidação da articulação com representantes da sociedade civil nos espaços já legitimados e institucionalizados, como fóruns e conselhos municipais.


Nova concepção de assistência social
O novo paradigma da assistência social ultrapassa os limites do padrão convencional, tradicional, assistencialista vigente. Configura-se como uma política social que pode efetivamente contribuir para a consolidação dos direitos sociais e sua universalização. Esta nova visão está sendo construída, inclusive, na relação entre profissionais da assistência social e usuários desta política, proporcionando ações diferenciadas com novas formas de atendimento e participação popular. Não basta uma adesão teórica a uma nova concepção de assistência social, a um novo projeto político de sociedade sem que haja um comprometimento ético/político dos atores responsáveis por sua concretização.  A assistência deve ser a expressão de um projeto coletivo.
A construção de um novo projeto se produz no embate político traduzido no discurso e ação de diversos atores de entidades responsáveis pela assistência social. Contudo, não se rompe abruptamente com um modelo, há sempre resquícios do assistencialismo, convive-se com diferentes modelos (antigo e o novo) simultaneamente, - uma contradição necessária entre atores, ações e ideologias - na disputa política por novas formas de enfrentamento da pobreza, via a articulação das várias políticas públicas cujo modo de atuação foi expresso nos últimos anos.

A PROPOSTA DE REDE A PARTIR DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
O sujeito/objeto de nossas inquietações são as ações políticas na área da assistência no município de Porto Alegre, cuja gestão municipal vem garantindo nos últimos anos um processo de participação popular. Foi criado em 1993 o Fórum Municipal de Assistência Social e organizada a I Conferência Municipal de Assistência Social onde se aprovou o Plano Municipal de Assistência Social e deliberou-se sobre o modus operandi de Assistência Social, centralizada em três pontos principais: concepção de Assistência Social; Sistema Municipal de Assistência Social e Gestão da Assistência Social.  Todo esse envolvimento delineou-se no processo de debate da sociedade em consonância com o projeto democrático-popular, assumido pelo governo.


A Fundação de Assistência Social e Cidadania[5] (FASC), órgão gestor da política de Assistência Social definiu as bases estratégicas com o objetivo de garantir a democratização da cidade, a qualificação dos serviços prestados e a qualificação das relações com setores organizados da população. Como a característica da Administração do Municipal e proposta de governo, investiu-se em aprofundamento do perfil popular junto à população não organizada, bem como a formação de rede de prestação de serviços, firmando parcerias que comprometessem as três esferas de poder, entidades privadas.
Conforme prevê a Lei Municipal nº 7414 de 1994 a FASC passa  ser responsável pelo planejamento, coordenação, supervisão e execução das atividades das unidades operacionais a seu encargo, em consonância com o Plano Municipal de Assistência Social e de forma a enquadrar-se ao desenvolvimento social e às aspirações da comunidade onde estão inseridas; articular e coordenar a política de assistência social em Porto Alegre, bem como gerir os serviços, benefícios e programas assistenciais em consonância com a Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS; garantir a execução do Plano Municipal de Assistência Social através da articulação dos órgãos governamentais e não-governamentais de Assistência Social.
A Fundação tem um novo direcionamento no período de 1997-2000, conforme deliberação da III Conferência Municipal de Assistência Social para consolidação da política municipal de assistência.  Desencadeia-se na fundação um processo de reordenamento institucional.  Técnicos da instituição debatem a questão da descentralização, a concepção e diretrizes da assistência social como política pública vinculada à seguridade social. Configura-se, então, a gênesis do novo modelo gerencial descentralizado que deveria considerar a capacidade criativa das comunidades e a própria ação dos técnicos visando a constituição da rede de assistência. Segundo Curtinaz (2002) o modelo de gerenciamento descentralizado nos coloca na fronteira do tencionamento, com a responsabilidade de representar a institucionalidade sem perder a criticidade de nossas ações. (p.101) A abrangência das gerências regionais respaldava-se na regionalização já existente do Orçamento Participativo e buscavam interlocuções que pretendiam tecer uma rede de atendimento, segundo Baptista (2000), o atendimento em rede se constitui pela articulação de um conjunto amplo e dinâmico de organizações diversas, em torno de interesses comuns, que realizam ações complementares em um processo unitário coerente de decisões, estratégias e esforços.
A FASC é responsável pela coordenação e execução dos programas e serviços de atendimento a população em situação de vulnerabilidade social desenvolvidos nos Centros Regionais de Assistência Social[6], nos módulos[7] de assistência social e em organizações não governamentais conveniadas com o município.
Para a execução da política foram criadas duas redes de serviços, denominadas de rede básica e rede especializada.
A rede básica da FASC é a rede de serviços que executa programas e serviços destinados à população que mantém laços familiares e comunitários, mas que está econômica e socialmente vulnerável[8].  Há nove centros regionais de assistência social e 14 módulos de assistência social e aproximadamente 250 organizações não governamentais conveniadas[9]. Segundo Guimarães (2002) esta rede insere-se nas comunidades e organiza-se regionalmente através dos Centros Regionais de Assistência Social e em módulos de assistência social. Outra modalidade é a rede especializada que atende a população que está em um maior grau de vulnerabilidade social, como crianças e adolescentes em situação de rua e adultos moradores de rua (...) Oferece atendimento de maior complexidade, exigido por esse público-como os abrigos – em locais estratégicos.[10]
O fortalecimento e consolidação da rede de atendimento descentralizada dos serviços constituíram-se elementos importantes no processo da implementação da assistência proporcionando visibilidade à política municipal de Assistência Social. Um dos principais programas hoje desenvolvidos é o Programa Família – apoio e proteção, integrado pelo NASF – Núcleo de Apoio Sócio - Familiar, implantado em 1994 é executado em nove centros regionais de assistência social e pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), implantado pela governo federal em 2000 é executado em Porto Alegre pela FASC.
Esta é uma das estratégias da FASC a descentralização da política de assistência social através de gerências regionais que buscava uma melhor articulação com os seguimentos sociais, usuários da política, entidades não governamentais e governamentais. Segundo Guimarães (2002) esse modelo deveria responder a uma identificação geográfica, administrativa, política e pedagógica que proporcionasse uma aproximação com instituições gerenciadoras dos serviços de assistência.
O objetivo do governo ao implantar a política de Assistência Social era romper com o assistencialismo, práticas paternalistas e conservadoras historicamente construídas e consolidadas nas políticas municipais, e ao mesmo tempo impulsionar práticas sociais orientadas por este novo paradigma da assistência, principalmente concernente à participação popular no processo de implementação, gestão e controle das ações de Assistência Social. Para tanto, era necessário garantir a hegemonia das forças políticas que apostavam em formas diferenciadas de enfrentamento da pobreza, garantindo a participação da população e contribuindo para sua emancipação social, ou seja, população como ator chave do seu processo de libertação. A questão do enfrentamento da crise brasileira não é só romper o emergencial na direção da efetivação de políticas sociais, mas de ter em conta principalmente às bases dessa consolidação. É trazer as forças populares para o cenário da decisão (Sposatti et al, 1987 p.25). A participação popular tem ocorrido através do envolvimento em canais de participação da comunidade como o Fórum de Orçamento Participativo, as Comissões Regionais de Assistência Social. Todos estes com representantes eleitos diretamente pela comunidade.

A EMANCIPAÇÃO DO SUJEITO PARA O FORTALECIMENTO DAS REDES
A inserção das forças populares no cenário de tomadas de decisões vem se construindo gradualmente. Percebe-se uma fragilidade histórica no processo de participação popular nos governos, considerando, sobretudo, os ranços autoritários de um passado recente cuja cultura e conjuntura favorecia a submissão, a obediência ao Estado e não a participação social. Contudo, o processo de democratização não garante por si só a participação. O povo, os interessados precisam ter uma ação pró-ativa, uma cidadania mais participativa, reclamando, exigindo seus direitos e cumprindo seus deveres.  Cobrar do Estado, fiscalizar suas ações, ou seja, exercer o controle social é dever do cidadão. Para tanto, é necessário produzir e disseminar informações.
Segundo Medeiros (2000) a informação é componente fundamental da qualidade e eficácia das ações individuais e coletivas, e mais do que isso, das eloqüentes dimensões da publicidade e do controle social quanto ao fazer público. (p.125). As informações, sobretudo, as mais técnicas, complexas devem ser socializadas com o povo, ter um alcance social, para que aquele tenha condições de participar, opinando, decidindo, controlando, o que poderá ser feito, principalmente, com informações. Esta gera possibilidades de uma participação popular diferenciada, capaz de argumentar, questionar. Sem informação reproduz-se o que Demo (2002) denomina de pobreza política - a condição de massa de manobra do pobre - ou por ele não saber criticamente que é pobre, ou por se ver como objeto de cuidados da elite, do governo e Estado, ou ainda, por não saber realizar um efetivo controle democrático sobre  mercado e Estado.
Participação requer consciência da sua importância. Portanto, é preciso conhecer, acessar, questionar, se informar para se ter conseqüentemente um envolvimento.  Para dentro e fora da nossa instituição, informar tem de ser concebido como sinônimos dos termos incluir, integrar, motivar, qualificar e responsabilizar. Medeiros (2000:126) Nesse sentido, o conhecimento transforma, modifica a visão e a ação do sujeito, não há neutralidade.  O povo precisa se ver como sujeito construtor de sua própria história, não ficar esperando do governo a solução para seus problemas. Isso não significa retirar do Estado seu papel social.  Assim com já se disse, ninguém educa ninguém, pode-se dizer – ninguém emancipa ninguém. O homem é construtor de sua própria libertação, embora ele não faça isso sozinho, ele precisa desejar se emancipar.
No seu extremo, politicamente pobre é quem espera a emancipação dos outros, sobretudo dos que a impedem. Primeiro erro é espera a emancipação dos outros, mantendo-se objeto do cuidado dos outros e deixando de perceber que o verbo emancipar só pode ser reflexivo, ou seja, emancipar-se. (...) Segundo erro é esperar a emancipação logo dos que a impedem, enredando-se na malha da incapacidade de perceber criticamente que a pobreza é injusta, imposta, cultivada. (Demo, 2002:78)
      A política de assistência social deve objetivar uma emancipação do seu público alvo. Contudo, por si só ela não garante isso. É necessária a construção de um projeto ético político coletivo, cujos fundamentos estejam ancorados numa visão libertadora, problematizadora que tenha a população como sujeito, configurando-se um processo de interação entre diferentes atores numa relação edificante de informação e conhecimento, onde a população faz a leitura da sua própria realidade. Pois como já foi dito, sem informação não é possível participação. Esta deve circular os espaços institucionais possibilitando tratar de várias dimensões na área da assistência passando pela tomada de decisão até sua implementação. Investir na informação e fazer dela um eixo de gestão, não significa dar a conhecer um corpo de dados ao qual só determinados setores privilegiados têm acesso.  A dificuldade inicia na inexistência de um sistema de informações consolidado (Medeiros, 2002:124)
Uma visão emancipatória procura maior relação e diálogo, com os saberes locais e os diferentes atores, é realizada em um contexto histórico e social, que pressupõe o conhecimento da realidade.  Além disso, quando o trabalho é executado em rede, trata-se de buscar a superação da fragmentação das atuações sociais dos sujeitos e suas implicações para a vida do homem e da sociedade. O processo ligado a uma visão emancipatória luta contra formas instituídas e os mecanismos de poder e alienação, deslegitimando as formas institucionais, propiciando assim a argumentação, a comunicação e a solidariedade, bem como o contraditório.
Para compreender uma visão emancipatória e a concretização do trabalho em rede é necessário um processo de vivência democrática à medida que todos os segmentos sociais que participem, construindo assim possibilidades de modificar sua própria realidade, devendo apostar em novos valores, respeitando a singularidade do sujeito, em vez da padronização, em vez de dependência, construir a autonomia; em vez de isolamento e individualismo, o coletivo e a participação; em vez da privacidade do trabalho individual, propor que seja público; em vez de autoritarismo, a gestão democrática; em vez de cristalizar o instituído, inová-lo; em vez de qualidade total, investir na qualidade para todos.
Por um lado, a visão emancipatória é um meio que permite potencializar o trabalho colaborativo e, portanto fortalecer uma rede de compromisso com objetivos comuns; por outro, sua concretização exige rupturas.

Conceitos de rede, comparações, VISÕES.
O processo de implementação de rede de assistência no município de Porto Alegre expressa um modelo ainda embrionário de compreensão de redes, no entanto, não apresenta uma noção da real complexidade da atuação em rede. A necessidade de construir um modelo para o enfrentamento das nuances do capitalismo, principalmente relacionadas à exclusão social dos direitos básicos do “cidadão” não expressa em sua complexidade os conceitos de rede. Na compreensão das redes, precisamos considerar ainda os aspectos geográficos, sistemas produtivos, circulação de produtos, circuitos de cooperação, pois suas atuações são importantes para compreendermos a complexidade da rede.
Para Santos (1996), as cidades são definitivamente como pontos nodais, onde estes círculos de valor desigual se encontram e superpõem. A rede urbana se torna, assim um fenômeno, ainda mais complexo, definido por fluxos de informação hierarquizados e fluxos de matéria, que nas áreas mais desenvolvidas não são hierarquizantes.
Portanto, as redes contem elementos como informações, mensagens e ordens, hierarquizados ou não. Estas questões nos traduzem as diversas possibilidades que se fazem presentes sob o prisma da assistência social enquanto política publica e a necessidade das conexões e articulações de uma pressuposta atuação em rede, problemas estes que extrapolam o território local, problemas gerais, relações cidade-campo; relações interurbanas; e organização interna das cidades e os novos papéis da metrópole.
A atuação em rede perpassa e ultrapassa o limite local, o que não implica possibilidades do surgimento de sistemas que garantam em alguns aspectos mecanismos compensatórios, capazes de dirimir as relações do capital e trabalho.
O anseio e a necessidade dos agentes políticos instituírem processos para qualificarem as ações das políticas públicas, os levou a implementação de conceitos restritos ao senso comum. Isto não significa o desmerecimento da iniciativa, mas a constatação de que muitas vezes as ações políticas desconsideram os conceitos técnicos, prevalecendo o político, quando deveria haver uma complementariedade. Cabe ressaltar que a incitativa garante a intenção dos agentes de tecer uma rede que vai além dos serviços de assistência, ainda que, “isentos” de conotação teórica cientifica. Segundo SOUZA SANTOS (2002) é uma outra forma de olhar, o senso comum, não inferior à ciência, mas como parte integrante da mesma. Ressalta ainda suas virtualidades: a praticidade, a transparência, a evidência, a indisciplinaridade e espontaneidade desta noção. Neste sentido, ocorre o que autor citado denomina de senso comum esclarecido.
É importante ressaltar que a proposta de rede em Porto Alegre é uma forma de atuação diante da realidade local, de compensar a inércia do Estado. Contudo, a visão de totalidade, de mundo, da configuração da sociedade quando desconhecida afeta a intervenção da ação social dos agentes que implementam a política. Quando eles se vêem isolado da natureza, da compreensão global, do espaço local, dos aspectos culturais e econômicos, considerando-se como algo exterior a eles, estão separando o sujeito do próprio ambiente e de sua realidade, o observador do fato observado e desenvolvendo um olhar viciado, dominante e linear que divide, separa e reduz. Isso não contribui para o entendimento de atuação em rede, de sua complexidade, da própria realidade. 
 A modernidade da ciência, segundo Latour (1994) evidencia um corte epistemológico entre conhecimento exato e exercício do poder, natureza e cultura insistindo num isolamento, isto é, separando os homens, as coisas e os discursos.  Contudo, outros olhares têm se lançado sobre o real, entre estes se pode situar as redes. É o que autor denomina de TECIDO INTEIRIÇO, das naturezas e culturas ao mesmo tempo real, social e narrada. As redes são ao mesmo tempo reais como a natureza, narradas como discurso, coletivas como a sociedade. (op.cit. 11)
O foco das redes é a interação, unidade, totalidade que está vinculada à noção de complexidade e de dialética. A dialética, segundo MARX apud SEVERINO (1986), aponta que a realidade vai se produzindo permanentemente através de um processo de mudança determinado pela luta dos contrários, por força da contradição que trabalho o real, no seu próprio interior.
 De outro lado, o princípio da complexidade é juntar, unir, dialogar, comunicar distintas dimensões como a física, biológica, cultural, sociológica, histórica. Como afirma Morin (2003) a natureza da ciência é ao mesmo tempo social e política, física, biológica, cultural, social histórica de tudo que é humano (p.31). Complexus é tecido junto.[11]  As noções de Redes em Latour e de Complexus em Morin coincidem significando inteireza, totalidade, unidade,  aquilo que não se pode separar. Tecido junto = sentido inteiriço.
            Não há unanimidade quando se fala em redes. Todavia percebe-se a intenção da idéia de tecido junto, de interação. Como se aponta na definição a seguir sobre rede.
Trata-se de um tecido de relações e interações que se estabelecem com uma finalidade e se interconectam por meio de linhas de ação ou trabalhos conjuntos. Os pontos de rede podem ser pessoas, instituições ou grupos. Os diferentes tipos de redes têm uma função na vida de cada pessoa(...).[12]
A assistência social como política pública está imersa num conjunto de relações e deve ser analisada neste prisma. As redes sociais possibilitam a ação solidária em situações adversas e diversas, podendo ser viabilizada pelo Estado e/ou sociedade civil, mas não se restringem as dimensões sociais. As redes de colaboração solidária podem ser consideradas sob os aspectos econômicos, político e cultural.
  
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Optamos referenciar a implementação da rede de assistência social em Porto Alegre, por se uma iniciativa inovadora e com o caráter de romper com a visão fragmentada das ações das políticas públicas. Para isso, tomamos como referência conceitos que vão do senso comum a complexidade de redes. A idéia é de fomentar o debate sobre a constituição de redes de assistência, tendo esta como propulsora de um novo modelo de intervenção social. Buscando a articulação e responsabilização dos agentes que viabilizam as demais políticas. Os autores com os quais dialogamos apontam para uma compreensão de redes que perpassa o espaço local, e conduz para um processo de emancipação do sujeito contribuindo para provocar uma ruptura de visão conservadora da ciência.

O modelo implementado no município de Porto Alegre apresenta uma configuração denominada como redes de serviços da assistência social. Portanto, trata-se uma concepção embrionária, necessitando de uma maior articulação entre agentes, sujeitos, espaços geográficos, questões culturais, econômicas, políticas, e sociais. A proposta da assistência  social com funcionamento em rede  pressupõe,  segundo DURO GUIMARÃES (2002), atuação conjunta da concepção de direito enquanto cidadão, do serviço como uma forma de enfrentamento as questões sociais e a integração das políticas e da própria comunidade em sua relação com outras entidades. a transforma

O termo rede utilizado na política municipal de assistência passa a idéia de cooperação, de existência de serviços. Trata apenas da noção de articulação dos serviços e não pressupõe o conceito mais complexo de rede. A noção que permeia o entendimento de rede no município de Porto Alegre reforça a importância da assistência social como uma política publica de dever do Estado e direito do cidadão. Está condicionada a uma estrutura, política, ideológica de Estado e articulação com os diversos segmentos sociais. Justifica-se a intenção, pois a política é a tradução dos anseios e necessidade de determinados segmentos sociais, através de propostas inovadoras. Por isso, a idéia da necessidade de conexão e articulação destes segmentos propõe um novo modelo para o enfrentamento da pobreza e, por conseguinte, a emancipação do sujeito.

Construir novos paradigmas e conceitos passa por um debate cultural e ideológico na sociedade para romper com a lógica da estrutura capitalista que reforça o individualismo, onde os sujeitos são tratados como mercadoria. A idéia e iniciativa de redes para os serviços de assistência social propiciam um espaço de polemização no conjunto da sociedade que contribui para a construção de uma cidadania emancipatória. Este debate é incipiente, pois a noção de rede deve ultrapassar o micro espaço de redes internas e locais. Objetivando tecer uma rede de global de solidariedade para enfrentar a barbárie.


Referências Bibliográficas

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BAPTISTA, Myriam Vera. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo. Veras Editora. 2000.
DEMO, Pedro.  Complexidade e Aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo, Atlas, 2002.
________Politicidade: Razão humana. Campinas, SP: Papirus, 2002.
DRAIBE, Sonia. O sistema de proteção social: o legado desenvolvimentista  a agenda recente de reformas. Mimeo, s/d.
COUTINHO, Carlos Nelson. Marxismo e Política: a dualidade de poderes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 1996.
CURTINAZ, Shirley de Hann. Gestão descentralizada – tecendo redes in I° Seminário de Práticas Sociais – Troca de Experiência. Fundação de Assistência Social e Cidadania – FASC. Porto Alegre, RS. Brasil, 2002.
GUIMARÃES DURO, Gleny Terezinha. Entidades assistenciais: rede de serviços para constituição de uma política de assistência social. Porto Alegre: EDPUCRS, 2002.
GUIMARÃES, Jorge Francisco de Oliveira. A experienciação do paradigma:o desafio da gerência regional in Iº Seminário de Práticas Sociais – Troca de Experiência . Fundação de Assistência Social e Cidadania - FASC. Porto Alegre, RS. Brasil, 2002.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Coleção TRANS, 1994.
LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – LOAS – n° 8.742 de 7 de dezembro de 1993.
LEI MUNICIPAL n° 7.414 de 1994 – Porto Alegre –RS
LEI MUNICIPAL n° 8.509 de 07 de junho de 2000 –  Porto Alegre –RS
MEDEIROS, Márcia de Souza. A batalha da informação in Iº Seminário de Práticas Sociais – Troca de Experiência . Fundação de Assistência Social e Cidadania- FASC. Porto Alegre, RS. Brasil, 2002.
SANTOS, Milton. Técnica Espaço Tempo. Globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo, Hucitec, 1996.
SANTOS, Boaventura de Souza. Um Discurso sobre as Ciências. Porto, Afrontamento, 2002.
__________. Introdução a uma Ciência Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, ideologia e contra ideologia. São Paulo: EPU, 1986.
SPOSATI. Aldaíza de Oliveira. A assistência na trajetória das políticas sociais brasileira. São Paulo: Cortez, 2003.
YASBEK, Maria Carmelita. Classes Subalternas e assistência social São Paulo: Cortez, 1993.
FASC. Fundação de Assistência Social e Cidadania. Manual de Assistência Social/ 1995, p. 8    (mimeo)
COUTINHO, Carlos Nelson in www.artnet.com.br/gramsci/arquiv93.htm




[1]  Administração Popular era a composição da coligação política. Em 1992, PT, PPS,  PSB, PV e PC. 1996 PT, PCB e PPS e 2000, PT, PCB, PSB, PC do B.

[2] O Estado não é um neutro, expressa fortemente o seu caráter ideológico. Como afirma Coutinho (1996), o Estado é um Estado de classe: não é a encarnação da razão universal, mas sim uma entidade particular que, em nome de um suposto interesse geral, defende os interesses comum de classe particular.(p.19) Para Marx, o Estado é visto como um comitê de classe, exercendo seu poder de opressão para defender os interesses da classe dominante, controlar os conflitos sociais entre diferentes interesses econômicos.
[3] "Sociedade civil" é uma arena privilegiada da luta de classe, uma esfera do ser social onde se dá uma intensa luta pela hegemonia; e, precisamente por isso, ela não é o "outro" do Estado, mas - juntamente com a "sociedade política" ou o "Estado-coerção" - um dos seus inelimináveis momentos constitutivos.(COUTINHO, 2005)
[4] Art. 203 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; Art. 204 - As ações governamentais na área da assistência social serão (...)organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa II - participação da população, por meio de organizações representativas.

[5] A política de assistência social em Porto Alegre acompanha a forma de gestão proposta pela  LOAS, cap III, art 6° de um sistema descentralizado e participativo. Portanto, a configuração do processo de implementação da referida política vincula-se a um novo ordenamento da assistência social, cujo marco político/jurídico ocorreu definitivamente com a promulgação do Projeto de Lei nº 7414, aprovado na Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre em abril de 1994.
[6] Os Centros Regionais de Assistência Social estão localizados em regiões geopolíticas da cidade, e são responsáveis pela execução de serviços e supervisão dos programas de assistência social desenvolvidos pelas entidades conveniadas.
[7] Módulos são equipamentos descentralizados que executam serviços e programas de assistência social e estão vinculados aos Centros Regionais de Assistência Social.
[8] Portal da Prefeitura de Porto Alegre.  www.portoalegre.rs.gov.br/fasc.
[9] Idem
[10] Ibidem
[11] Edgar MORIN  não  foi o pai do vocábulo complexus. A idéia está relacionada a teoria da informação e da cibernética ( anos 50) que  passaram a fornecer uma nova perspectiva teórica que se podia aplicar ao mesmo tempo à máquinas artificiais, aos organismos biológicos e aos fenômenos psicológicos e  sociológicos.  Porém, teve o papel do grande artesão do pensamento complexo  e  da idéia de complexidade. ( ALMEIDA, 2002)
12 Conceito extraído do texto baseado  no documento:Redes Locales Frente a la Violencia Familiar - Série: Violencia Intrafamiliar y Salud Publica. Documento de Análise nº 2. La Asociación de Solidaridad para Países Emergentes (ASPEm) / OPAS, Perú, Junho de 1999.


29 março, 2012

Martin Luther King: 44 anos de martírio...

   Há exatos 44 anos atrás era assassinado Martin Luther King - no dia 4 de abril de 1968 -, aos 39 anos de idade.
  Aos que não o conheceram e que pouco leram ou ouviram a seu respeito: Martin Luther King foi um ícone da luta por igualdade e paz, seus ideais mobilizaram multidões...
  Ele foi um grande líder. Lutou incessantemente pelos princípios de liberdade e igualdade, e pelos direitos civis na América. Pelo combate pacífico contra o preconceito racial, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Mas a trajetória de um dos mais importantes e respeitados líderes políticos negros foi breve. Foi assassinado aos 39 anos por um branco segregacionista.

   O MOVIMENTO começou quando A passageira, Rosa Parks, que se recusou a ceder o lugar no ônibus para um branco, e por isso ela foi presa por desacato às leis segregacionistas.A luta de Luther King pelos direitos civis nos Estados Unidos teve início no episódio conhecido como Milagre de Montgomery, em 1955. Então presidente da Associação de Melhoramento de Montgomery, liderou, junto com os demais membros da comunidade, um boicote às empresas de ônibus da cidade, após um ato discriminatório a uma passageira negra.

   Este episódio colocou a questão racial em debate nacional e gerou um movimento, que durou um ano, para pressionar o Estado a abolir este tipo de segregação. A reivindicação foi acatada pela Suprema Corte Americana, que determinou o fim da discriminação nos transportes públicos.

  Em seguida, King liderou uma série de protestos em diversas cidades norte-americanas contra a segregação racial em espaços públicos e pelos direitos civis do negro. Em 1960, os negros conquistaram o direito de acesso a bibliotecas, parques e lanchonetes.

Na década de 60, a questão racial era apenas uma parte da luta de classes nos EUA, além das greves e da luta dos trabalhadores, e da participação dos EUA em golpes e conflitos militares no mundo inteiro.

MARCHA – Em 1963, o ativista político liderou a Marcha para Washington, um movimento de luta pelo fim da segregação racial. O manifesto em prol dos Direitos Civis de todos os cidadãos americanos contou com a participação de mais de 200 mil pessoas. Na ocasião, Luther King proferiu o célebre discurso Eu tenho um sonho, que clamava por uma sociedade de liberdade e igualdade.

   Aos 35 anos, Luther King foi contemplado com o Nobel da Paz, sendo o mais jovem ganhador deste importante Prêmio. A não-violência foi a forma utilizada para articular sua luta, realizada por meio de uma resistência firme, mas pacífica. No entanto, o líder político foi preso por diversas vezes, duramente criticado e sofreu ameaças por seus posicionamentos.

    A batalha de Luther King pelos direitos civis dos negros teve continuidade com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, assinada em 1964, que garantia a igualdade de direitos. No ano seguinte, mais uma importante conquista aconteceria: a aprovação da Lei dos Direitos de Voto para os negros. Luther King também lutou em favor de oportunidades de emprego para os pobres no país e, em 1967, uniu-se ao Movimento pela paz na Guerra do Vietnã.

   ASSASSINATO – Martin Luther King foi assassinado no dia 4 de abril de 1968, aos 39 anos, em Menphis. Todavia, sua luta significou um marco histórico na defesa pelos direitos civis de toda a humanidade e pela paz. Seu legado influenciou o fim do Apartheid na África do Sul e permitiu que o mundo assistisse, na primeira década do século XXI, a ascensão do primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América, Barack Obama.

   Temos um sonho e a luta continua!

   Manifestações de racismo são constantes na sociedade brasileira e mundial, e ainda assistimos a crimes bárbaros motivados pela questão racial. Os níveis de vitimização de jovens negros são alarmantes, conforme consta no Mapa da  Violência 2011 – Os Jovens do Brasil, publicação do Ministério da Justiça e do Instituto Sangari, recentemente lançada (disponível em: www.mapadaviolencia.org.br).

   De acordo com a análise, em todos os dados apresentados, a população negra ocupa os primeiros lugares entre as vítimas por mortes violentas, principalmente os homens negros. “Esta situação está presente em todas as regiões brasileiras, com raras exceções em alguns Estados, e visibiliza um nítido componente racial no perfil de incidência dessas mortes” (trecho do relatório).

   FUNDAÇÃO PALMARES – Neste governo, o cerne da luta contra o racismo é fomentar ações de enfrentamento às violências motivadas pela discriminação, contribuindo para a promoção do direito da população negra à vida. E construir políticas de ações afirmativas para a valorização da cultura negra é o desafio da Fundação Cultural Palmares (FCP), ora sob a presidência de Eloi Ferreira de Araujo.

   Com ferramentas como o Estatuto da Igualdade Racial e a disposição de avançar na transversalidade da cultura com os demais órgãos governamentais e segmentos sociais, os gestores da Palmares desejam promover a identidade dos negros e das negras no Brasil e no mundo. Neste ano se faz menção Internacionalmente aos Povos Afrodescendentes, e Luther King inspira o combate contra a discriminação.

      Violência racial é violação de direitos humanos. Portanto, a luta pela igualdade e pela liberdade não pode parar!

   Martin Luther King, um perfil:

   Martin Luther King nasceu numa família de negros norte-americanos, em 15 de janeiro de 1929, na parte mais radical do segregacionismo – o sul dos Estados Unidos, em Atlanta. Filho e neto de pastores, cresceu num ambiente de fortes convicções políticas e religiosas, tornando-se pastor batista aos dezenove anos. Formou-se em teologia pelo Seminário Teológico Crozer e, em 1955, concluiu o doutorado em filosofia pela Universidade de Boston. 

Defendeu a luta pela paz e se dedicou à filosofia do protesto não violento, inspirado nas idéias do líder indiano Mahatma Gandhi.

17 setembro, 2011

Vivos, atentos e mobilizados - O DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

     A comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra ainda desperta a oportunidade para examinar os conceitos e pré-conceitos de muitos quanto à afirmação desta data e outras que afirmam a brasilidade do nosso povo. O artigo publicado no jornal o Globo com o título “Distraídos, mataremos”, em 15/11/2007, é uma demonstração da persistência do domínio branco sobre a possibilidade de construirmos uma nação sem racismo.

    Gostaria de lembrar uma afirmação de Boaventura Sousa Santos em seu livro Toward a multicultural conception of human rights (1997) que nos ajuda a pensar como um imperativo social no contexto de uma política de democratização do acesso que contemple as diferenças: as pessoas têm direito a ser iguais sempre que a diferença as tornar inferiores; contudo, têm também direito a ser diferentes sempre que a igualdade colocar em risco suas identidades.

    Em 2001, realizou-se na cidade de Durban, na África do Sul, a 3a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU). Parece que o autor do referido artigo desconhece esta conferência, ou faz vistas grossas, aliás, muitos acadêmicos afirmam os seus pensamentos e expressões conservadoras através de artigos embutidos de conceitos racistas sob a égide do academicismo. Posições que tentam ocultar um racismo velado, que insistem em ecoar nas favelas, no sistema penitenciário e nas estatísticas sócio-econômicas reveladoras de uma frágil democracia racial.

    Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística demonstram uma combinação perversa que associa fracasso escolar, pobreza e marginalização social.Na educação, a taxa de analfabetismo de jovens negros é de 9,1% entre 15 e 19 anos. Entre os jovens brancos, esse índice é de 3,7%. Entre as mulheres brancas na mesma faixa etária, a população analfabeta é de 1,9% e de 4,2% entre as mulheres negras, cuja renda aponta uma dupla discriminação no mercado de trabalho.

   Na realidade alguns temas despertam a polêmica sobre datas comemorativas, principalmente quando são datas que revelam discussões sobre a liberdade, o respeito humano, a opressão, o genocídio fragmentário e o racismo. Essa discussão não pode ser feita isoladamente, como temos assistido em diversas esferas da sociedade e muitas vezes no meio acadêmico. Essa é uma estratégia daqueles que são contra, ou daqueles que não querem discutir o assunto, principalmente, sobre o preconceito racial. Estas datas devem de ser discutidas no contexto das políticas de ação afirmativa as quais estão inseridas, na luta em prol do combate às desigualdades sociais e raciais no Brasil.

   Na Conferência, o Brasil comprometeu-se internacionalmente com a luta contra a discriminação racial, estabelecendo uma série de ações para o desenvolvimento de políticas de ações afirmativas voltadas para a população negra brasileira. Essas e outras medidas que vêm sendo implementadas pós-Durban são, então, ações afirmativas, são políticas de combate às desigualdades raciais e ao implementá-las o Brasil estará também, efetivamente, desenvolvendo ações de combate às desigualdades sociais.

    A desigualdade racial brasileira não decorre de nenhuma fatalidade histórica, apesar da perturbadora naturalidade com que a sociedade a encara. No Brasil, o negro não é discriminado só porque ele é pobre. Ele é discriminado porque é negro e, também, porque é pobre. É claro que a classe social, a renda e o grau de instrução, em algumas situações atenuam esse racismo, mas não fazem com que ele desapareça.

      As datas comemorativas representam uma das estratégias de ação afirmativa e, ao serem implantadas, além de possibilitar visibilidade, desvelam a existência de um processo histórico e estrutural de discriminação que assola determinados grupos sociais e étnico/raciais. Talvez por isso elas incomodem tanto a sociedade brasileira e alguns acadêmicos, uma vez que desvelam a crença de que somos uma “democracia racial” e de que se resolvermos a questão socioeconômica resolveremos a racial.

     Por isso, estamos vivos, atentos e mobilizados, mulheres e homens, negros, brancos, índios em manter o rumo na perspectiva de uma sociedade humanamente diversa, socialmente justa e verdadeiramente democrática, que passa pelo reconhecimento das desigualdades perversas de raça, etnia e gênero.

Venceremos! 

16 março, 2011

O apartheid no carnaval de Salvador

    Todos sabemos que a festa mais popular no Brasil é o carnaval. O carnaval em Salvador, é uma festa que envolve o povo brasileiro, e atrai milhares de pessoas de todo o mundo.Com certeza, para muitos, ir atrás do trio elétrico percorrendo o circuito Barra/Ondina, ou Campo Grande, é uma sensação inesquecível.
    
    Minha constatação é sobre quem participa, e se diverte no carnaval de Salvador. Sabedor que Salvador tem 80% de sua população negra, percebe-se que essa não é a realidade de seus blocos. O carnaval de Salvador é feito para turistas, e em sua maioria brancos. O preço dos abadás dos grandes blocos custa no mínimo  R$200,00, e pode chegar a R$ 1.500,00. O povo trabalhador de Salvador participa da festa na condição de cordeiro, ou na pipoca; aqueles que são os cordeiros (cordeiro é aquele que segura a corda dos blocos para garantir o acesso e a segurança dos foliões) recebe em torno de R$25,00 , um suco, e um pacote de biscoito para percorrer o trajeto.
    
    Essa talvez seja, a condição do povo nativo  acompanhar os grandes blocos de axé music de sucesso na mídia. 

    O apartheid no carnaval de Salvador é evidente, de um lado da corda-bloco 99% de brancos, do outro, segurando a corda, sem as mínimas condições de trabalho e segurança, negros. Sem os abadás, e com coletes numerados, de sandálias sobre as ruas fétidas do circuito, a toda sorte de doenças e contaminações, fazem a segurança dos foliões, na sua grande maioria bem calçados usando tênis da moda. Como diria o poeta, de um lado o carnaval, do outro a fome total.

     Esta bandeira também é minha porque Sepé Tiarajú defendeu seu povo contra a colonização dos espanhóis e portugueses;      Esta bandeira...