A frase de Luiz Inácio Lula da Silva, que definiu o presidente do Senado José Sarney como “um homem incomum”, nos permite uma série de reflexões.
“Sarney é incomum”: nem Sarney ele é. Nasceu José Ribamar Ferreira de Araújo e adotou o nome Sarney para fins eleitorais.
“Sarney é um homem incomum”: foi deputado federal, governador e senador pelo Maranhão e presidente da República — um estado com um dos maiores índices de pobreza do país.
“Sarney é um homem incomum”: foi líder do governo de João Goulart, integrou a ARENA, o PDS e hoje está no PMDB.
“Sarney é um homem incomum”: foi candidato a vice-presidente em eleição indireta e acabou assumindo a presidência da República.
“Sarney é um homem incomum”: é senador pelo Amapá sem residir lá, mesmo tendo registrado o maior índice de rejeição entre os candidatos ao Senado.
“Sarney é um homem incomum”: foi aliado de Fernando Henrique Cardoso e, mais tarde, de Lula, e em ambos os momentos foi eleito presidente do Senado.
“Sarney é um homem incomum”: publicou várias obras literárias e é membro da Academia Brasileira de Letras, embora poucas pessoas conheçam seus livros.
“Sarney é um homem incomum”: afirmou que no Senado não existiam atos secretos, mas anulou 663 deles posteriormente.
“Sarney é um homem incomum”: recebia auxílio-moradia residindo em sua propriedade particular em Brasília, enquanto utilizava a residência oficial. Inicialmente, negou o recebimento, mas dias depois sua assessoria confirmou que recebia o auxílio desde maio de 2008.
“Sarney é um homem incomum”: negou ter responsabilidade administrativa sobre a Fundação José Sarney, mas presidia o conselho da instituição.
“Sarney é um homem incomum”: ocultou da Justiça Eleitoral uma casa em Brasília avaliada em R$ 4 milhões e outra em São Luís, alegando “erro técnico” na declaração de bens.
“Sarney é um homem incomum”: enviou quatro policiais do Senado em “missão oficial” para proteger imóveis de sua família durante protestos contra a cassação do governador Jackson Lago.
“Sarney é um homem incomum”: teria recebido informações da Abin sobre processo sigiloso envolvendo seu filho, Fernando Sarney, conforme suspeitas surgidas na Operação Boi Barrica.
“Sarney é um homem incomum”: teria usado carros oficiais durante sua campanha em 2006, prática vedada pela lei eleitoral.
“Sarney é um homem incomum”: resgatou suas aplicações no Banco Santos na véspera da intervenção do Banco Central, sendo amigo pessoal do então proprietário Edemar Cid Ferreira.
“Sarney é um homem incomum”: nomeou nove conhecidos da família para cargos comissionados no Senado, incluindo funcionários “fantasmas” protegidos de outros senadores.
“Sarney é um homem incomum”: entre os 663 atos secretos editados pelo Senado, cerca de 10% teriam favorecido familiares e aliados políticos do senador.
Enfim, Lula tem razão: José Sarney é, de fato, um homem incomum.