18 agosto, 2006

O porteiro intelectual

Conheço muitos intelectuais, acadêmicos e pessoas amantes da boa leitura. Na minha atividade profissional, é necessário estar bem informado sobre os acontecimentos, ler e reler constantemente; só assim podemos avaliar a sociedade e refletir sobre os modelos sociais e políticos. Claro que não pretendo transformar este texto em uma expressão teórica ou científica — perderia a essência e o objetivo desta página. Aqui é o espaço para expressarmos nossas impertinências, buscando no senso comum a relativização necessária para compreender o comportamento humano. O ser humano, independentemente da escolaridade, produz conhecimento a partir de sua vivência e busca nos livros um aprofundamento.

Outro dia, batendo um papo com o porteiro do meu edifício sobre assuntos relacionados ao seu trabalho, fiz várias perguntas — aquelas óbvias, mas fundamentais para um bom relacionamento. Sabem como é: a famosa política de boa vizinhança. Indaguei-o sobre diversos aspectos: qual o horário que trabalha? Onde mora? Se estudava?

Nas várias conversas que tivemos, percebi um discurso afinado, palavras articuladas e profunda reflexão. Perguntei se gostava de ler. Ele prontamente respondeu: “Claro, doutor.” — “E que tipo de leitura?” — “Todas”, disse o jovem, “mas principalmente Maquiavel e Gramsci.” Não parei por aí e continuei com as perguntas.

O jovem, plenamente à vontade, começou a falar sobre Opus Dei e O Código Da Vinci, como se os livros estivessem à sua frente. Fiquei perplexo com tamanha intimidade com a literatura. Afinal, não é todo dia que encontramos um intelectual. Quando os encontramos, geralmente estão na academia ou na televisão. A definição de intelectual costuma pressupor que a pessoa tenha frequentado os bancos acadêmicos, produzindo várias teses. Fiquei impressionado ao perceber que a escola da vida é, muitas vezes, a mais importante, e o conhecimento acadêmico apenas aprimora a intelectualidade. Sem dúvida, estava diante de um verdadeiro “intelectual”, que profissionalmente exercia a função de porteiro.

    Esta bandeira também é minha porque Sepé Tiarajú defendeu seu povo contra a colonização dos espanhóis e portugueses. Esta bandeira é mi...