Há pouco tempo, descobriu-se o reino onde vive Ali Lulá. Neste reino, ele ganha a vida editando medidas provisórias e pagando mensalões.
Uma tarde, ao voltar para casa, Ali Lulá se deparou com uma cena impressionante: uma longa caravana de quarenta homens carregava grandes pacotes, envelopes e muito dinheiro, escondido até nas cuecas. Antes que pudesse reagir, o chefe se aproximou gritando:
— Você não viu nada!
Por um estranho milagre, os quarenta homens foram denunciados pelos próprios aliados. Mas, novamente, o chefe gritou para Ali Lulá:
— Você não viu nada!
A partir daquele momento, Ali Lulá, mesmo conhecendo todos os detalhes e sabendo de tudo, passou a obedecer: repetia sempre, com firmeza, a frase que se tornaria seu mantra:
— Eu não vi nada.
Os quarenta ladrões fugiram, escondendo-se por algum tempo, alguns retornando à caverna onde repousava o grande tesouro. Ali, aprovar emendas no orçamento e influenciar decisões de interesse pessoal era rotina.
Quando parecia que tudo fora esquecido, a suprema corte indiciou os quarenta ladrões por corrupção, peculato, evasão de divisas e outros crimes. Mas eles não se contentaram: recrutaram mais quarenta aliados, escondidos na mesma caverna, protegendo seus segredos. Somente os quarenta ladrões e Ali Babá tinham acesso àquele lugar. Ali Lulá, obediente, partiu para outro reino, como sempre instruído pelo chefe.
Dentro da caverna, um dos líderes exclamou:
— Fecha-te, Sésamo!
A porta se fechou e eles permaneceram lá por longas horas. Ninguém jamais soube exatamente o que ocorreu dentro da caverna, mas, quando finalmente a porta se abriu, tudo continuava como antes. Os ladrões mostravam, mais uma vez, sua eficiência e poder.
E no reino de Ali Lulá, ele repetia com convicção:
— Eu não sei de nada. Eu não vi nada.