28 agosto, 2006

Beco com saída

O mundo vive uma situação, no mínimo, interessante: Plutão, que até ontem era considerado um planeta, não é mais; as cataratas de Foz do Iguaçu estão secas; no Nordeste brasileiro, há enchentes; e Israel dizima o povo palestino, mesmo depois de ter vivido o Holocausto.

Que mundo interessante esse nosso! Há mais tecnologia, internet, wireless, medicamentos avançados, uma superprodução de alimentos… e, ao mesmo tempo, milhões de pessoas passam fome.

Muitos percebem os avanços e as atrocidades do mundo, mas a humanidade caminha a passos lentos e não percebe o que está fazendo, como se cada um de nós não fosse responsável. Afinal, os outros são sempre os culpados; nós não temos nada a ver com isso. E essas situações passam despercebidas porque estamos ocupados com nossos próprios objetivos: estudar, ter um bom emprego, tomar aquela cervejinha no fim da tarde, juntar dinheiro para a viagem dos sonhos.

Afinal, todos os problemas da humanidade parecem não nos atingir. E, quando nos atingem, passam de raspão. Vivemos em um país sem guerras, sem terremotos, sem furacões. Esse egoísmo inerente ao ser humano contaminou a humanidade.

Essa epidemia de egoísmo só tem um remédio: a solidariedade humana.

18 agosto, 2006

O porteiro intelectual

Conheço muitos intelectuais, acadêmicos e pessoas amantes da boa leitura. Na minha atividade profissional, é necessário estar bem informado sobre os acontecimentos, ler e reler constantemente; só assim podemos avaliar a sociedade e refletir sobre os modelos sociais e políticos. Claro que não pretendo transformar este texto em uma expressão teórica ou científica — perderia a essência e o objetivo desta página. Aqui é o espaço para expressarmos nossas impertinências, buscando no senso comum a relativização necessária para compreender o comportamento humano. O ser humano, independentemente da escolaridade, produz conhecimento a partir de sua vivência e busca nos livros um aprofundamento.

Outro dia, batendo um papo com o porteiro do meu edifício sobre assuntos relacionados ao seu trabalho, fiz várias perguntas — aquelas óbvias, mas fundamentais para um bom relacionamento. Sabem como é: a famosa política de boa vizinhança. Indaguei-o sobre diversos aspectos: qual o horário que trabalha? Onde mora? Se estudava?

Nas várias conversas que tivemos, percebi um discurso afinado, palavras articuladas e profunda reflexão. Perguntei se gostava de ler. Ele prontamente respondeu: “Claro, doutor.” — “E que tipo de leitura?” — “Todas”, disse o jovem, “mas principalmente Maquiavel e Gramsci.” Não parei por aí e continuei com as perguntas.

O jovem, plenamente à vontade, começou a falar sobre Opus Dei e O Código Da Vinci, como se os livros estivessem à sua frente. Fiquei perplexo com tamanha intimidade com a literatura. Afinal, não é todo dia que encontramos um intelectual. Quando os encontramos, geralmente estão na academia ou na televisão. A definição de intelectual costuma pressupor que a pessoa tenha frequentado os bancos acadêmicos, produzindo várias teses. Fiquei impressionado ao perceber que a escola da vida é, muitas vezes, a mais importante, e o conhecimento acadêmico apenas aprimora a intelectualidade. Sem dúvida, estava diante de um verdadeiro “intelectual”, que profissionalmente exercia a função de porteiro.

Onde estão as armas de destruição em massa?

Essa é a pergunta que inquieta milhões de pessoas em todo o mundo — embora a resposta pareça cada vez mais clara: talvez nunca tenham existido. Durante meses, especialistas da ONU vasculharam cada canto do Iraque, sem encontrar nada. A tecnologia americana avançada, utilizada em ataques durante mais de vinte dias, também não deu pistas. Então, cadê as armas?

Enquanto isso, o bombardeio anglo-americano não atingiu os alvos que buscava: puniram inocentes. Milhares de crianças iraquianas estão agora à mercê de fome, doenças e falta de água. Muitas morrerão sem jamais entender o porquê.

A justificativa da guerra, tão propagada pelos EUA, perdeu toda credibilidade. E a pergunta que não quer calar: não seria hora do exército iraquiano usar essas “armas de destruição em massa” que todos temiam para se defender?

Aparentemente, a estratégia foi outra. A vitória americana parecia inevitável, graças a mísseis “cirúrgicos” e tecnologia de ponta. Mas as verdadeiras armas de destruição em massa — a violência, o medo, o poder — ficaram com os que atacaram.

Talvez, ironicamente, elas não estivessem no Iraque. Talvez estejam bem mais perto: nos EUA e na Inglaterra.

Algozes do socialismo

Certamente, para alguns, a expressão socialismo está diretamente ligada a um passado recente, que serviu de referência histórica. Associar o socialismo apenas às experiências do Leste Europeu talvez seja uma visão reducionista, incapaz de abarcar seu significado em sua integralidade.

As experiências socialistas existentes no mundo certamente contribuíram, de diversos modos, para que setores da esquerda revisassem suas posições em relação às formas de socialismo que ali se consolidaram.

Ao analisar o conjunto das situações históricas e das diferentes referências ao "socialismo", percebe-se que essas experiências buscavam, essencialmente, enfrentar o capitalismo e a exploração desordenada do trabalho — problemas que permanecem presentes em quase todos os regimes políticos contemporâneos. Em muitos aspectos, as diferenças entre os regimes políticos são menores do que se imagina, seja em relação a direitos humanos, democracia, liberdade de expressão ou outros aspectos relevantes; alguns poderiam ser caracterizados como capitalismo de Estado, outros como capitalismo privado.

Compreender esse conjunto de situações leva à conclusão de que o socialismo, tal como foi defendido e implementado por muitos durante décadas, sofreu, em grande medida, de interpretações equivocadas.

Pode-se dizer que muitos daqueles que empunharam a bandeira do socialismo e conquistaram espaços políticos hoje buscam distanciar-se dele. Apontar aos “socialismos” toda a responsabilidade pelo caos vivido na humanidade parece conveniente para alguns. Ignora-se, assim, que essas experiências tinham como objetivo enfrentar um capitalismo que provoca guerras, intervém em países e mata milhões de pessoas de fome, enquanto uma minoria acumula riqueza.

Talvez a verdadeira questão seja encontrar formas de superar o capitalismo, e não reinventar a roda. Os críticos do socialismo, frequentemente amparados pela imprensa capitalista sob o pretexto da “defesa da democracia”, acabam defendendo interesses históricos das elites dominantes, ao mesmo tempo em que desqualificam aqueles que ainda se organizam e resistem.

Entre malas, cuecas e calcinhas

Já tivemos um caçador de marajás, 300 picaretas no Congresso, anões do orçamento, PCs que prometiam mundos e fundos, laranjas, aquele que não tinha escrúpulos… e agora mensalão, dizimão, malas e cuecas. Só no Brasil, meu amigo, só aqui!

Às vezes fico perplexo. Veja, por exemplo, a reunião da cúpula árabe-sul-americana em Brasília: aparato bélico nas ruas de impressionar o mundo. Homem-bomba? Kamikaze? Terrorista? Acho difícil. No Brasil, nossa criatividade é maior: temos até uma lei que não foi aprovada no Congresso, mas que funciona melhor que qualquer outra — a famosa “lei de Gerson”: levar vantagem em tudo, sempre.

É certo que nossos governantes não conseguem erradicar a fome, nem a miséria, nem combater a violência contra crianças e adolescentes, nem fazer reforma agrária, nem garantir saúde e educação de qualidade. Mas, quando o assunto é burlar a lei ou engordar a própria conta bancária, ah, aí eles são gênios.

Que país é este, onde alguns enriquecem às custas de milhares que vivem à mercê da sorte ou na esperança de ganhar na Mega-Sena, enquanto outros tentam a sorte divina — e vejam só — transportam o dízimo em malas, de jatinho, para ficar bem pertinho do céu? Precisamos ter nervos de aço.

Nada mais me surpreende. Um país que já teve carnaval presidencial sem calcinhas agora se destaca entre malas e cuecas. Este Brasil é realmente… incrível!!!

    Esta bandeira também é minha porque Sepé Tiarajú defendeu seu povo contra a colonização dos espanhóis e portugueses. Esta bandeira é mi...